terça-feira, 6 de novembro de 2018

Nós, Eles e a Resistência


Ver, ouvir e sentir. Estas foram algumas das ferramentas utilizadas por milhares de fãs que foram ao estádio Beira-Rio decifrar de perto o espetáculo multissensorial Us+Them, concebido e executado pelo ex-líder do Pink Floyd, Roger Waters.

O show é todo construído e estruturado no clássico disco da banda “The Dark Side of the Moon”. Isto mesmo, o disco do “prisma” de 1973. Uma das mais importantes e conceituais obras da música contemporânea lançado há mais de quatro décadas.
Na medida em que o show vai evoluindo as sensações e percepções vão aumentando.
Em “Time” todo poderio sonoro e visual é alcançado fazendo despertar todos no Gigante.
Em  “The Great Gig in the Sky”, “O Maior Espetáculo no Céu” é revelado e chega ao clímax na performance de duas vozes femininas.

Em “Wish You Were Here” a vontade é de que todos estivessem ali para sentir de perto aquela canção transcendental.
“Another Brick in the Wall” parece que foi feita para ser executada em um grande estádio. Uma forte pulsação.
E foi aproveitando esta força que Roger passa a mensagem da noite: RESISTA (resist). 


Resistir também é combater. Resistir à opressão, à homofobia, à xenofobia, à tortura, à intolerância religiosa, ao antissemitismo e principalmente ao fascismo, que nada mais é do que o poder político autoritário e repressivo que anda na contramão das democracias.
E é exatamente aí que reside todo o centro da polêmica dos shows de Waters apresentados aqui no Brasil. Na inclusão do nome de um político brasileiro na lista de “persona non grata”.
Waters alerta que o neofascismo está em alta no mundo todo.
Trump (EUA), Le Pen (França) e Putin (Rússia) são seus principais representantes.
No show de Porto Alegre o nome de Bolsonaro é retirado desta ilustre lista.
Mesmo assim a mensagem provocou gritos de “Ele não” e algumas vaias.


Waters surpreendeu os desavisados, mas a percepção é clara, não há nenhuma espécie de oportunismo ou desconhecimento por parte do cantor, e sim coerência com o que está sendo defendido por ele ao redor do mundo.
A “resistência” também está na crise dos refugiados, na destruição do meio ambiente e no uso desnecessário de armas.
Esta compreensão fica mais evidente na segunda parte  do show, quando Waters utiliza todas suas “armas” para atacar o truculento e polêmico presidente norte-americano Donald Trump.
Trump é caricato e personifica muito bem todas as bandeiras combatidas por Waters.
Ele é repudiado e ridicularizado enquanto “Dogs” e “Pigs” são executadas com sonorização sombria e pesada.
“Cães repressores” e  “Porcos corruptos” surgem com sentido figurado nas letras.


O gigantesco “porco voador” das apresentações ao vivo deixa o seu recado: “Seja Humano”
No retorno à “Dark Side”, “Money” é executada com referências e críticas aos chefes globais e ao capitalismo.
No final um grande prisma é projetado sobre o público e a chuva comparece para finalizar o espetáculo deixando-nos “confortavelmente entorpecidos”.

sábado, 4 de junho de 2016

O Último Engenheiro

Todas as reverências ao Gessinger, o 1berto,  cantor, letrista, multi-instrumentista, irreverente, multitalentoso.
O show mais aguardado dos últimos 26 anos…
Sim, eu tinha 14 quando os “Engenheiros” vieram a Cachoeira no auge de seu sucesso.
Eu presto atenção no que “eles” dizem e “eles” me dizem muito. 


Quem foi ao show foi surpreendido pela sonoridade do Power Trio.  Sim, os Engenheiros sempre foram um trio: Gessinger, Licks e Maltz... é o que está registrado nas nossas memórias, nas nossas camisetas da adolescência.
Agora o trio é outro. No comando das baquetas, o Bisogno, de visual marcante, de som forte, pulsante, por vezes marcial.  No prelúdio de “Somos quem podemos ser” mostrou toda sua versatilidade.
 Outra força do trio está na guitarra elétrica do Peters, executando o Licks dos primeiros discos e os riffs que vieram pela frente.
Gessinger revisitando o passado, reinventando no acordeon “Segurança e Crônica” ...
Por vezes o 1berto é mais de 1, revezando baixo, guitarra, piano e gaita de boca.  Em “Piano Bar” o momento mais intimista da noite, em “Terra de Gigantes” o mais introspectivo.
Bora, “O exército de um homem só” se multiplica e ecoa em cada refrão, deixando “a perigo” quem queria ficar parado.
 E “pra ser sincero” o show estava demais.
A música gaúcha “Herdeiro da Pampa Pobre” virou rock nas mãos dos Engenheiros, que agora fazem o caminho inverso, executando o seu rock em versões mais regionalistas.
E pra (tudo) ficar legal faltava percorrermos a “Infinita Highway”... a grande letra... o hino de uma geração...
Enfim, ficamos por aqui... “Longe demais das capitais.”
Iêêêê Ouuuu

E as pedras rolaram...

Quarta-feira, 2 de março de 2016, dia tenso, intenso, histórico...
O novo Beira-Rio era o palco para o bom e sempre revigorado som dos Rolling Stones.
E logo nos primeiros acordes o título de “Maior espetáculo da Terra” se justifica.
Aliás, cabe aqui uma ressalva, toda grande banda que pisa em solo brasileiro é intitulada “a melhor",  "a maior", mas os Stones realmente fazem jus a estas definições.
De primeira, o “vigoroso Jack Flash” faz todos saltarem.
Dai você se dá conta, eles estão aqui a nossa disposição: Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood, Charlie Watts e companhia. Prazer em conhecê-los.

E logo a chuva é convidada a participar. E quanto mais intensa, maior era a festa.... Jagger dançando: um show a parte.
E eles se divertem muito em cena.
Keith Richards brincando nos “riffs”, e a cada nova música um intervalo num cigarro; mas tudo bem, o Ron Wood também estava lá para garantir a sonoridade das guitarras.
Darryl Jones, o Stones não oficial, pulsava grooves de seu baixo.
No momento mais intimista da noite, Richards e seu violão voltam às ascendências da banda, o “rhythm and blues”.
Instante especial quando “Miss You” leva o estádio ao delírio no refrão... “ooh ooh oohm” .
Em “Gimme Shelter” é a vez de Sasha Allen roubar a cena com estrondosa e magnifica voz.
Na controversa “Sympathy for...” Mick se mostra teatral.
Simpático também ao arriscar em alguns momentos palavras em português.
As letras dos Stones não são as mais “politicamente corretas”, afinal eles são subversivos, irreverentes, e já foram rebeldes, mas a sonoridade de suas canções é contagiante.
Paint it black,  Ruby Tuedstay,  Brow sugar e Start me Up deixam todos ligados nos clássicos, afinal são 50 anos de estrada para 50 mil “stonianos  gaúchos” presentes no gigante.
No final, uma grata surpresa, o coral da PUC/RS cantando “You Can't Always ...” mostrando que naquela noite nós tínhamos um grande espetáculo.
Os velhinhos do rock tocaram com total intensidade....
e não podiam ir embora sem nos deixarmos satisfeitos...
“(I Can't Get No) Satisfaction …. oh no no no...Hey hey hey.
É o que eu digo: Isto é apenas Rock and Roll (mas eu gosto).

TODOS NO NENHUM

Estavam todos lá, o rock e suas tribos. Ah, e que tribos tem este tal de rock and roll. O encontro de gerações do “agitar e rolar” já virou ritual: pais e filhos; meninos e meninas, piercings, tatuagens e alguns cabelos coloridos.
Os jovens da minha geração, nem tão jovens assim, e os novos jovens cantando na ponta da língua os sucessos de ontem e de hoje.
No palco uma das melhores e populares bandas do rock gaúcho de todos os tempos. Banda que conquistou, na década de 90, os palcos nacionais junto com os Engenheiros “exportando” o nosso som além-fronteiras: invadindo as ondas FM`s, estampando camisetas e páginas da Bizz.


Todos no Nenhum, duas mil pessoas ouviram em alto e bom som as novas composições com uma pegada bem forte encaixadas com perfeição aos antigos sucessos. Estes executados com uma nova roupagem e sonoridade, bem bacana.
Isqueiros acesos deram lugar às luzes celulares que registraram em selfies, uma outra visão do show, postadas instantaneamente nas redes sociais.
Estavam todos lá: o Thedy na linha de frente e na “cozinha”o químico Sady produzindo suas alquimias. No acordeon o convincente João incorporando o regionalismo gaúcho... Nas pedaleiras duas guitarras, a do Stein e a do Veco. Uma em cada ponta amplificando harmoniosos acordes, slides e solos.
Depois de ouvir as principais canções tive a nítida percepção de que o show estava próximo do fim... ôhôôôôôôô, ôuôuôuôuôuôuôu...Sim, eles saíram de cena. E depois de gritos de “mais um, mais um”... eles voltaram pois ainda faltava ela: “Camila, Camila”... Cantada por todas as vozes em uma só canção.
Após o aplauso final, baquetas e palhetas lançadas no ar.
Afinal, “não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar.”

Valeu a todos do “Nenhum”!