Ver, ouvir e sentir. Estas
foram algumas das ferramentas utilizadas por milhares de fãs que foram ao estádio
Beira-Rio decifrar de perto o espetáculo multissensorial Us+Them, concebido e
executado pelo ex-líder do Pink Floyd, Roger Waters.
O show é todo construído e
estruturado no clássico disco da banda “The Dark Side of the Moon”. Isto mesmo,
o disco do “prisma” de 1973. Uma das mais importantes e conceituais obras da
música contemporânea lançado há mais de quatro décadas.
Na medida em que o show
vai evoluindo as sensações e percepções vão aumentando.
Em “Time” todo poderio
sonoro e visual é alcançado fazendo despertar todos no Gigante.
Em “The Great Gig in the Sky”, “O Maior
Espetáculo no Céu” é revelado e chega ao clímax na performance de duas vozes femininas.
Em “Wish You Were Here” a
vontade é de que todos estivessem ali para sentir de perto aquela canção
transcendental.
“Another Brick in the Wall”
parece que foi feita para ser executada em um grande estádio. Uma forte
pulsação.
E foi aproveitando esta
força que Roger passa a mensagem da noite: RESISTA (resist).
Resistir também é
combater. Resistir à opressão, à homofobia, à xenofobia, à tortura, à
intolerância religiosa, ao antissemitismo e principalmente ao fascismo, que
nada mais é do que o poder político autoritário e repressivo que anda na
contramão das democracias.
E é exatamente aí que
reside todo o centro da polêmica dos shows de Waters apresentados aqui no
Brasil. Na inclusão do nome de um político brasileiro na lista de “persona non
grata”.
Waters alerta que o
neofascismo está em alta no mundo todo.
Trump (EUA), Le Pen (França)
e Putin (Rússia) são seus principais representantes.
No show de Porto Alegre o
nome de Bolsonaro é retirado desta ilustre lista.
Mesmo assim a mensagem provocou gritos
de “Ele não” e algumas vaias.
Waters surpreendeu os
desavisados, mas a percepção é clara, não há nenhuma espécie de oportunismo ou
desconhecimento por parte do cantor, e sim coerência com o que está sendo
defendido por ele ao redor do mundo.
A “resistência” também
está na crise dos refugiados, na destruição do meio ambiente e no uso
desnecessário de armas.
Esta compreensão fica mais
evidente na segunda parte do show, quando
Waters utiliza todas suas “armas” para atacar o truculento e polêmico
presidente norte-americano Donald Trump.
Trump é caricato e
personifica muito bem todas as bandeiras combatidas por Waters.
Ele é repudiado e
ridicularizado enquanto “Dogs” e “Pigs” são executadas com sonorização sombria
e pesada.
“Cães repressores” e “Porcos corruptos” surgem com sentido
figurado nas letras.
O gigantesco “porco
voador” das apresentações ao vivo deixa o seu recado: “Seja Humano”
No retorno à “Dark Side”, “Money”
é executada com referências e críticas aos chefes globais e ao capitalismo.
No final um grande prisma
é projetado sobre o público e a chuva comparece para finalizar o espetáculo
deixando-nos “confortavelmente entorpecidos”.